A correta colaboração de todos os cidadãos nos negócios públicos é o seu mais patriótico
dever e a base mais segura de todo mecanismo governamental.
O respeito mútuo da sociedade para com os diretores dos seus destinos e o da autoridade
para com as legítimas e sinceras manifestações da opinião, constituem o fundamento primordial da
ordem e o único meio de desenvolvimento do progresso.
Muito mais no sistema republicano do que no monárquico é mister que se desenvolvam no
seio da sociedade os sentimentos nobres de veneração e tolerância, únicos que podem, pelo
abafamento das paixões inferiores, garantir a paz e a felicidade das nações.
Se não estavam aparentemente desenvolvidas estas qualidades no espírito do povo
brasileiro, elas ali repousavam em estado latente e revelaram-se de um modo espontâneo nas duas
grandes revoluções - de 13 de maio e de 15 de novembro.
O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim - já não são somente um
postulado político à espera de aplicação prática, são a divisa do grande povo da América do Sul
que, ao findar o século XIX, revelou-se como uma luminosa aparição profética.
O sentimento inquebrantável de fraternidade que presidiu as duas grandes revoluções, a
veneração mantida pelos patriotas em relação à pessoa do chefe do Estado, no momento em que,
para o bem da pátria, era ele privado da direção suprema que não mais podia permanecer nas suas
mãos, o modo digno e alto sentimento altruísta com que este povo abriu mão da propriedade servil,
o empenho com que, no dia 15 de novembro evitou-se o derramamento de sangue, só podem ser
traduzidos por esta palavra - fraternidade.
Eis o - amor - servindo de regulador dos nossos grandes atos nacionais.
A ordem por base!
As duas grandes revoluções não alteraram sequer por 24 horas a ordem pública, e o governo
ditatorial, que provisoriamente nos rege, está demonstrando, e fê-lo mesmo na hora gloriosa da
revolução, que seu maior empenho é garantir o sossego e a paz aos brasileiros. O progresso por
fim...
De posse da administração dos negócios públicos há tão poucos dias, não poderemos
apresentar desde já grandes atos, que traduzam nossas patrióticas intenções.
Todavia, no que diz respeito ao progresso moral, já é público e notório o pensamento do
governo a respeito da breve decretação de várias medidas que assegurem a mais ampla liberdade
espiritual.
No que se relaciona com o progresso material, estamos procurando, desde já, vencer as
enormes dificuldades que nos legaram os últimos governos da monarquia pelo esbanjamento das
rendas públicas, a fim de obtermos meios de ação por uma mais judiciosa organização financeira.
Os nossos antecessores no governo, principalmente no que se refere a este Estado do Rio
Grande, haviam decretado e contratado obras em valor superior à nossa renda anual, quando ela
nem chegava para as despesas ordinárias.
Contavam talvez com empréstimos vantajosos, nós, porém, precisamos ter muito cuidado
em recorrer a eles, antes de bem observar e estudar o que podem produzir os nossos próprios
recursos nesta época.
O artigo toma por mote o lema contista do “amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”
para analisar os propósitos e as ações do governo republicano.
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