sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Amor, Ordem e Progresso, Julio Castilhos



A educação cívica pela dignidade pessoal e pela voluntária subordinação das classes dirigidas às classes diretoras é a maior de todas as exigências do sistema republicano. 

A correta colaboração de todos os cidadãos nos negócios públicos é o seu mais patriótico dever e a base mais segura de todo mecanismo governamental. 

O respeito mútuo da sociedade para com os diretores dos seus destinos e o da autoridade para com as legítimas e sinceras manifestações da opinião, constituem o fundamento primordial da ordem e o único meio de desenvolvimento do progresso. 

Muito mais no sistema republicano do que no monárquico é mister que se desenvolvam no seio da sociedade os sentimentos nobres de veneração e tolerância, únicos que podem, pelo abafamento das paixões inferiores, garantir a paz e a felicidade das nações.

Se não estavam aparentemente desenvolvidas estas qualidades no espírito do povo brasileiro, elas ali repousavam em estado latente e revelaram-se de um modo espontâneo nas duas grandes revoluções - de 13 de maio e de 15 de novembro. 

O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim - já não são somente um postulado político à espera de aplicação prática, são a divisa do grande povo da América do Sul que, ao findar o século XIX, revelou-se como uma luminosa aparição profética. 

O sentimento inquebrantável de fraternidade que presidiu as duas grandes revoluções, a veneração mantida pelos patriotas em relação à pessoa do chefe do Estado, no momento em que, para o bem da pátria, era ele privado da direção suprema que não mais podia permanecer nas suas mãos, o modo digno e alto sentimento altruísta com que este povo abriu mão da propriedade servil, o empenho com que, no dia 15 de novembro evitou-se o derramamento de sangue, só podem ser traduzidos por esta palavra - fraternidade. 

Eis o - amor - servindo de regulador dos nossos grandes atos nacionais. 

A ordem por base! 

As duas grandes revoluções não alteraram sequer por 24 horas a ordem pública, e o governo ditatorial, que provisoriamente nos rege, está demonstrando, e fê-lo mesmo na hora gloriosa da revolução, que seu maior empenho é garantir o sossego e a paz aos brasileiros. O progresso por fim... 

De posse da administração dos negócios públicos há tão poucos dias, não poderemos apresentar desde já grandes atos, que traduzam nossas patrióticas intenções. 

Todavia, no que diz respeito ao progresso moral, já é público e notório o pensamento do governo a respeito da breve decretação de várias medidas que assegurem a mais ampla liberdade espiritual. 

No que se relaciona com o progresso material, estamos procurando, desde já, vencer as enormes dificuldades que nos legaram os últimos governos da monarquia pelo esbanjamento das rendas públicas, a fim de obtermos meios de ação por uma mais judiciosa organização financeira. 

Os nossos antecessores no governo, principalmente no que se refere a este Estado do Rio Grande, haviam decretado e contratado obras em valor superior à nossa renda anual, quando ela nem chegava para as despesas ordinárias. 

Contavam talvez com empréstimos vantajosos, nós, porém, precisamos ter muito cuidado em recorrer a eles, antes de bem observar e estudar o que podem produzir os nossos próprios recursos nesta época. 

O artigo toma por mote o lema contista do “amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim” para analisar os propósitos e as ações do governo republicano. 

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