domingo, 25 de setembro de 2022

O Sentido do Nacionalismo, Horia Sima



1. Nacionalismo, unificador da Pátria 

Esclarecida a estrutura da nação e conhecida sua vida íntima, voltemos ao problema do nacionalismo, que constitui o tema principal de nosso estudo. 

O nacionalismo é a expressão da totalidade nacional e nunca de algumas partes ou fragmentos da mesma. É um fator de integração de todas as províncias e regiões. Uma região, uma província, não pode ser nacionalista, o termo é equivocadamente empregado, porque estas entidades não são nações, mas somente territórios ou populações que se fundiram entre si para formar o conjunto de uma nação, ao curso de um longo processo histórico. As províncias e as regiões pertencem ao primeiro estado de criação das nações, quando somente existia um material de base, esperando sua fusão. As províncias e as regiões não são mais que os ladrilhos que entram na edificação da nação. A nação tem uma arquitetura distinta de seus elementos componentes. Ela não é nem indivíduo, nem classe, nem região, mas algo totalmente a parte, que incorpora todos estes fragmentos em uma ordem nova e uma nova perspectiva. 

O nacionalismo é um estado de suprema consciência ao que chegou uma comunidade humana, que supera todas as aspirações locais, provinciais ou regionais. O nacionalismo unifica a diversidade etno-geográfica de um país, dando-lhe um sentido de realização espiritual. O nacionalismo possui uma dinâmica própria, independente da de suas partes componentes. A nação não é algo estático, não é algo fixo, não é algo definitivamente contornado já no primeiro momento, senão que está realizando-se continuamente. O nacionalismo é a tensão criadora da nação que emprega suas forças para realizar suas finalidades. 

2. O nacionalismo e o nacional 

O nacionalismo não é algo distinto do nacional. Os movimentos nacionalistas podem ser igualmente denominados movimentos nacionais. Porém há modos de pensar quando não podemos evitar o emprego dos termos “nacionalismo” e “nacionalista”. Se o apego de um patriota a sua pátria, se chama “patriotismo”; se um indivíduo afiliado à doutrina marxista se chama “marxista” ou “comunista”; se a fé de um cristão se chama “cristianismo”, a de um maometano “maometismo”, não existe motivo algum para não dizer de alguém que adere aos princípios da nação, que é um “nacionalista”. Não devemos deixar que se crie um clima de confusão ao redor deste nobre e leal vocábulo, pois que perderemos um forte aliado na luta contra o comunismo. 

Por outro lado, o termo “nacional” reflete uma imagem pálida da pátria, porque foi desvalorizado pelos partidos democráticos. Em todos os países da Europa, existiram partidos que se chamavam “nacional-liberal”, “nacional-camponês”, “nacional-democrata”, “nacional-conservador”, “nacional-radical”, etc. Porém todos estes partidos, que se declaravam “nacionais”, na realidade, representavam interesses de classe. Nenhum deles se preocupava com a totalidade nacional. Se denominavam “nacionais para atrair o eleitorado, especulando com o sentimento nacional. Deste modo, “o nacional” perdeu muito de seu vigor inicial, sendo degradado pela duplicidade dos partidos. O vocábulo “nacionalismo” tem uma carga emotiva e energética muito mais forte que “o nacional”, coisa de que não devemos descuidar, e particularmente hoje, quando se trata do ser ou não ser das nações. Por isso, quando personalidades ou grupos políticos quiseram realizar uma grande empresa nacional ou alertar o povo sobre um iminente perigo sempre fizeram clamar a seu “nacionalismo”. 

O Nacionalismo – como se mencionou anteriormente - passou por duas etapas, que se observam muito bem na história dos povos europeus. A fase do nacionalismo extensivo, que conduziu à criação dos Estados nacionais. Este tipo de nacionalismo se conclui com a realização da unidade territorial de uma nação. Se as nações depois de alcançar suas fronteiras étnicas, se voltam sobre si mesmos para preocupar-se mais quanto a como organizar melhor seus recursos físicos, morais, espirituais e políticos, então entraram na fase do nacionalismo intensivo. Somente este tipo de nacionalismo forja a personalidade histórica e cultural de uma nação. Os partidos políticos democráticos geralmente não saem do conceito do nacionalismo extensivo, territorial, e por isto não podem nunca chegar a compreender a verdadeira essência da nação, havendo do “nacional” uma caricatura da nação. 

3. As características do Nacionalismo 

Vamos agora a ver quais são as características fundamentais do Nacionalismo frente a outras ideologias, frente a outras correntes políticas. 

a) O Nacionalismo é conservador, porém não deve confundir-se com o partido conservador. O Nacionalismo vigia a conservação do patrimônio histórico, espiritual e cultural de uma nação. Uma nação sofre diversas mudanças em seus costumes e em suas instituições com o passar do tempo, porém uma coisa deve ser mantida sem alterações: sua personalidade histórica. O eu coletivo de uma nação deve ser transmitido em estado puro de uma geração a outra. Quando o santuário espiritual de uma nação é profanado, aquela nação é ferida de morte e seu fim está próximo. O nacionalismo se opõe continuamente a este processo de desagregação dos povos, que pode ser produzido seja por debilidades próprias seja como consequência de influências perigosas do estrangeiro. Neste sentido é conservador o nacionalismo, não porque defenda privilégios injustos. 

b) O nacionalismo se pode apresentar, em um determinado momento, como uma reação frente a alterações ou anomalias que se produzem no corpo da nação. O nacionalismo reage com vigor quando os valores eternos são atacados ou substituídos por ideias alheias e perigosas para a existência da nação. Porém não é “reacionário”, isto é, não luta para a restauração de privilégios de classe ou de instituições ultrapassadas pelo momento histórico. 

c) O nacionalismo pode ser revolucionário em determinadas circunstâncias e pode desencadear mesmo revoluções para conquistar o poder. Porém não é um adepto sistemático da violência, não é revolucionário como princípio de ação na vida política. O Nacionalismo recorre à revolução somente in extremis, isto é, quando não lhe resta outra solução para salvar a existência de sua nação. Quando uma nação está a ponto de cair nas garras de seus inimigos, como se deu na Espanha de 1936, então a postura revolucionária está plenamente justificada. Em circunstâncias trágicas quando, como única saída para salvar a existência de uma nação, não pode mais que a revolução, o Nacionalismo tem o direito, e mais ainda, tem o dever de arriscar uma revolução. 

d) O Nacionalismo tem uma visão completa e harmônica da nação, isto é, que abarca toda a nação, com todos seus nomes e todas suas terras. Porém não é totalitário, no sentido de identificar-se com a fórmula do Estado totalitário. O Nacionalismo não é o exponente de uma classe social, não é o exponente de uma região, não é o exponente de alguns interesses econômicos, senão que manifesta a mesma solicitude paterna para todas as realidades nacionais. O Nacionalismo contempla à nação por cima, daquela região ideal que se eleva muito por acima dos interesses particulares. O Nacionalismo se pode assemelhar ao voo de uma águia, que sobrevoa majestosamente sobre homens, casas e paisagens. O Nacionalismo capta algo do mistério da nação, e deste centro dirige seus destinos. 

e) O Nacionalismo é um valor universal. Todas as nações, sem exceção alguma, são nacionalistas, ainda quando, às vezes, no reconhecem esta qualidade, ou bem a escondem. Quando uma nação deixa de ser nacionalista, isto é, quando já não afirma sua personalidade criadora na história ou na cultura, não é mais uma nação. Porém devemos precisar que a universalidade nacionalista não é uma ideia supranacional, idêntica em todos os povos, mas que ela varia em conteúdo de uma nação a outra. Cada nação produz seu nacionalismo específico, sui-generis, diferente do nacionalismo de outras nações. Ele não é transferível de uma nação a outra, e toda imitação de um nacionalismo alheio impede o desenvolvimento normal de uma nação. O nacionalismo importado é rechaçado pela nação. Assim ocorreu com as tentativas de transplantar o fascismo, ou o nacional-socialismo, em outros países. A experiência não teve êxito. 

f) O Nacionalismo é um valor muito antigo. Como doutrina se desenvolveu somente na época moderna, iniciando ao final do século XVIII, porém como estado de espírito, como realidade vivida, aparece desde as origens da História. Os sumérios, o primeiro povo, identificado graças à arqueologia, se manifestaram como um grupo social fechado, com características étnicas, culturais, religiosas e socioeconômicas próprias. Não podemos passar em revista todos os povos da antiguidade que chegaram à consciência histórica. Nos limitemos a dois exemplos sobressalentes: os judeus e os gregos. Os judeus eram o povo eleito, guardião da verdadeira fé, ao qual lhe era proibido por lei divina a mesclar-se com outros povos e raças, chamadas gentias. Os gregos, ainda que vivessem dispersos em cidades-estados, não chegando a formar um Estado nacional, se consideravam um povo distinto, de essência superior aos demais. De um lado, eram eles, os gregos, do outro, uma massa disforme de raças e povos, denominados coletivamente bárbaros. 

4. Nacionalismo e Socialismo 

O socialismo está implicado no Nacionalismo, se por Socialismo se entende justiça social, e não luta de classes, que é um conceito de origem marxista e que representa uma característica do comunismo. O nacionalismo não é a expressão de uma classe nem de um interesse particular, abarca a totalidade da nação. Para um nacionalista, as diferenças de classe social não podem ser ignoradas, porém as considera como fenômenos secundários, que têm lugar no interior da nação e que devem ser permanente subordinados a suas finalidades e a seus ideais. Um nacionalista nunca arrancará a classe do contexto social para usá-la como arma de combate contra a nação, ou mesmo situar-lhe acima da nação, como fazem os comunistas. Para evitar qualquer interpretação hostil à nação, os homens políticos que desejem utilizar o termo “socialismo”, na denominação de seu partido, deve adicionar-lhe uma nota, um atributo, para indicar claramente que seu socialismo se distingue do comunismo. Eles podem nomear seu socialismo anticomunista “socialismo nacional”, ou “socialismo cristão”, ou melhor, “socialismo nacional-cristão”. 

Hoje, o vocábulo socialismo está tão corrompido pelo contato prolongado com o comunismo, que é preferível não utilizá-lo de maneira alguma. Primeiramente, existem partidos socialistas que têm uma base doutrinária comum com o comunismo: o marxismo. O que lhes diferencia é somente o método de conquista do poder. Por outro lado, mesmo os comunistas, nos países em que chegaram ao poder continuam utilizando o termo “socialismo”, ampliando a confusão no mundo livre. As Repúblicas Soviéticas se chamam “repúblicas socialistas”, e também os Estados satélites da Europa Oriental se chamam repúblicas socialistas. Os comunistas toleram, entretanto, figurar o “socialismo” em seu vocabulário tanto para os benefícios propagandísticos que podem proporcionar-lhe o terreno ao estrangeiro, como para necessidades de política interior. O socialismo é a fase preparatória no processo de comunistização de um país, que se manifesta pela expropriação dos bens de produção. O comunismo real, autêntico, representa a segunda fase, a fase final, na qual o indivíduo perde sua personalidade, desaparecendo numa massa amorfa de escravos, totalmente à disposição do Estado. 

Nestas circunstâncias, devido à corrupção intrínseca que sofreu o termo “socialismo”, sua utilização como emblema político para os partidos de ordem é contraproducente. O socialismo foi contaminado até a medula pelo comunismo, e assim como água contaminada não se bebe, não devemos beber da fonte do socialismo. 

5. Os inimigos do Nacionalismo 

Não devemos deixar-nos enganar pelos que combatem o nacionalismo, ao que consideram um fenômeno anacrônico, e mesmo mórbido. Devemos identificar bem aos que patrocinam as campanhas antinacionalistas, para ver se não estão no fundo interessados na destruição de outros povos, para afirmar, justamente, seu próprio nacionalismo. Inimigos do nacionalismo, por exemplo, são e têm sido, em todos os tempos, os judeus. Em qualquer país onde se assentam, constituem una minoria hostil ao Estado nacional, e lutam pela sua desintegração. Porém, os mesmos judeus, quando criaram seu Estado nacional, mudaram radicalmente de atitude. Não somente olvidaram seus princípios pacifistas, humanitários, cosmopolitas, que professavam amplamente quando se encontravam na diáspora, porém passaram a professar com fanatismo sua fé em Israel, em seu Estado nacional, e, longe de haver promovido a fraternidade e o bom entendimento com outros povos, assim como rezavam antes, se converteram nos perseguidores dos grupos étnicos coabitantes. O nacionalismo hebreu adotou características extremas, transformando-se em intolerante, racista e imperialista. Eles que tanto combateram Hitler e suas teorias, e que não perdoam nem hoje aos sobreviventes políticos do Terceiro Reich, criaram na Palestina um Estado assentado exatamente sobre o «Weltanschauung» hitlerista, sobre as ideias de «Blut und Boden». 

Há, todavia, outra categoria de indivíduos que tornam-se frenéticos quando ouvem falar de Nacionalismo ao que combatem com todos seus meios. São os comunistas. Em seu vasto império, que abarca a Rússia e a Europa Oriental, qualquer movimento de protesta contra a política de opressão e desnacionalização dos povos cativos, é sufocado rapidamente em sangue, e os exponentes do nacionalismo são executados, ou internados em manicômios. Qualquer broto de nacionalismo é tachado de anacrônico - reminiscência da época burguês-capitalista, que não tem nenhuma razão de ser em uma sociedade socialista avançada. Porém quando se trata dos povos da Ásia e da África, e, em geral, dos povos que constituem o terceiro mundo, os mesmos comunistas adotam outra linguagem. Nestes lugares, e somente nestes, eles tornam-se campeões da liberdade dos povos, excitam o nacionalismo, e defendem o direito dos povos de dispor sobre si mesmos, contra os “imperialistas” e os “colonialistas”. 

Estas duas posturas são contraditórias só aparentemente. Na realidade servem para o mesmo fim, que é a dominação mundial pelos comunistas, e não representam mais que dois momentos tácticos na guerra que eles levantam contra o mundo livre. No império comunista se considera o nacionalismo muito perigoso, porque representa uma força capaz de provocar a desintegração da dominação ateu-marxista. Já no mundo livre, o nacionalismo, assim como o fomenta a Rússia bolchevique, ajuda na degradação dos impérios coloniais e na emancipação dos povos situados na esfera de influência das nações ocidentais. Porém, que ocorrerá despois que estes povos se desprenderem da tutela ocidental? Tornar-se-ão livres? De maneira alguma. Cedo ou tarde terão a mesma sorte que todos os povos cativos do âmbito soviético. Serão capturados pelos comunistas, cairão sob a tirania sangrenta destes, e perderão novamente, desta vez por definitivo, sua independência. 

O nacionalismo é o sinal de distinção de todos os povos. No exercício deste princípio encontramo-nos todos, pequenos e grandes. A condição fundamental para seu êxito é que devemos respeitá-lo em todos os povos. O que para nós nos deu vida e formou nossa personalidade histórica, não o podemos negar para outras nações. 

6. O Nacionalismo frente ao Comunismo

Hoje o Nacionalismo cresceu muito em importância, e em eficiência combativa. Longe de haver desaparecido da História, tal como profetizavam aqueles hipócritas interessados em desenvolver seu próprio nacionalismo, ele tomou as proporções de um movimento ingente em todo o mundo. Vejamos o grande movimento que desperta aos povos de cor. O nacionalismo africano e asiático está em plena ascensão. O nacionalismo árabe chegou ao apogeu, e está a ponto de transformar este povo em uma força considerável. No império comunista soviético, 200 milhões de seres humanos, que representam dezenas de nações distintas, estão frente aos 100 milhões de russos, e reclamam seu direito a uma vida livre. Na Europa Ocidental e na América do Norte, sob o véu de uma democracia formal, se observa uma grande efervescência nacionalista. Frente ao perigo comunista, os povos ibero-luso americanos cerram suas fileiras ao redor da bandeira nacionalista. 

Frente a frente se formam duas trincheiras: o universalismo nacionalista e cristão, contra o cosmopolitismo ateu e marxista. A luta final se dará entre estas duas forças. A batalha do Armagedom será aquela entre o nacionalismo cristão e o comunismo ateu. A vitória final será para as forças do bem, já que ao lado destas intervirá o Arcanjo Miguel, frente às hostes celestiais.

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